quarta-feira, 28 de agosto de 2024
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
terça-feira, 23 de julho de 2024
domingo, 21 de julho de 2024
domingo, 23 de junho de 2024
terça-feira, 11 de junho de 2024
do meu anedotário de maluca
Quando idealizei a miniatura do armazém que minha mãe teve durante algum tempo, há mais de sessenta anos, "no mato" do interior do Paraná, quis que ela fosse a mais fiel possível, tanto por dentro quanto por fora, ainda que, depois de acabada, não se possa mais ver seu interior, exceto pelo que aparecerá pelas vidraças e vãos das portas. O que se vê no canto em primeiro plano desta foto é um trecho do balcão com tampa de vidro (acrílico na miniatura), onde ficavam bijuterias, fitas, botões e outras peças de armarinho; no momento de fixá-lo ao chão e ao restante do balcão achei conveniente reforçá-lo com essas laterais triangulares que não havia no original. Depois disso pronto passei a ficar terrivelmente incomodada com a ideia de que minha mãe, ao acessar essa parte do balcão, ficasse obrigada a transpor a lateral e eventualmente tropeçasse nela. Fui dormir pensando que no dia seguinte trataria de serrá-la, com muito cuidado para não estragar o que já tinha me dado tanto trabalho. No dia seguinte, a sensação de desconforto tinha desaparecido por completo e passei a achar a solução das laterais não só funcional, mas também estética. Gosto de pensar que minha mãe me visitou durante o sono para dizer que assim estava bom, que não me preocupasse, que ela tomaria bastante cuidado.
segunda-feira, 10 de junho de 2024
quarta-feira, 22 de maio de 2024
sábado, 2 de março de 2024
Joseph Roth
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
domingo, 29 de outubro de 2023
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
das pequenas coincidências e dos finais felizes
No dia em que completava dezoito anos, ao abrir a geladeira da adega aonde fora apanhar mais bebida para a festa que rolava no andar superior, uma pequena corrente elétrica coincidiu com uma pequena e até então desconhecida disfunção de seu músculo cardíaco. Quando a encontraram, desfalecida, o tio, que coincidentemente era médico e lá estava justo para a comemoração do aniversário, empenhou toda a sua ciência e sua ternura para reanimá-la. Mas, era já tarde demais e o vasto porvir congelou-se para ela em estado de infinitas possibilidades, restando o coração impoluto, todas as ilusões preservadas.
sábado, 28 de janeiro de 2023
uma irmã
Laços de sangue não garantem parentesco espiritual, é sabido; irmãos podem ser e frequentemente são tão diferentes entre si quanto são de completos estranhos, ainda que a ascendência comum e a convivência na infância e juventude determinem relações de grande afeto. Dos meus quatro irmãos (um irmão e três irmãs) posso dizer que fosse mais aparentada de uma das irmãs, morta há muito tempo, ela então com 34 anos e eu com 20, de modo que não tivemos muita oportunidade de desfrutar da proximidade de nossos pontos de observação do mundo, mesmo porque ela já tinha aprendido quase tudo e comido o pão que o diabo amassou, enquanto eu era ainda uma completa idiota.
Por outro lado, é fascinante que se possa conhecer na literatura gente - real ou ficcional - tão parecida com a gente mesma. Minha primeira experiência desse tipo deu-se quando conheci Paulo Honório, o coronel assassino personagem do romance São Bernardo; identifiquei-me de cara com essa criatura e desenvolvi por ela o que por mim mesma era uma mistura de nojo e forte comiseração. Mais tarde, quando li Infância e Memórias do Cárcere, concluí que eu e Paulo Honório tínhamos um terceiro irmão bastante afinado, o criador mesmo, Graciliano.
Das minhas experiências de conhecer irmãos pela literatura, nada se comparou até agora à que tive quando li, muito recentemente, "As pequenas virtudes" da Natália Ginzburg: deu-me vontade de sair mostrando às pessoas na rua: "olha só, podia ser minha avó, viveu e morreu do outro lado do mundo, mas é minha irmã, verdadeiramente minha irmã, e de algum ponto do universo segue falando comigo".