sábado, 19 de dezembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
domingo, 1 de novembro de 2015
cinco poemas de Leila Guenther
PELA JANELA de um carro
em movimento
atiro
um a um
todos os fios de cabelo
de minha cabeça
a viagem é longa
Minha noite se divide
em muitas partes
que não posso reunir
A CHAT WITH CHET
Gosto mais de sua voz
agora
grave, baixa, pesada
pela força de atração
da terra
sem aquele caráter
flutuante de quando você era
um rapar bonito e
perfeito.
Gosto da economia de
suas notas
e da sonoridade que
elas adquiriram
depois que você perdeu
os dentes.
Gosto mais de você sem
dentes
e dos sulcos que surgiram
das profundezas de sua face
depois que a máscara
uniforme de garoto se quebrou.
Queria ter podido
afagar todo esse seu rosto
[verdadeiro
quando você caiu
daquela janela em Amsterdã.
MUDANÇA
Os objetos nas caixas
urdem uma vingança
que se dará sem som
e sem movimento
Os objetos nas caixas
transpiram entre folhas
de jornais
enquanto esperam com
paciência
serem arremessados no
vazio
pela janela do mais
alto andar
por quem um dia há de
arremessar
também
a si mesmo
ASSIM VOANDO
o pássaro mais belo
é o urubu
A LETRA A
Foi pela forma com que
se urdiram as letras
que o amor começou,
eles o comprovam.
Certo estava aquele
texto
a afirmar que no início
era o verbo.
A carne, os cheiros, o
toque, as sensações aguçadas pelas palavras
que pairam sublimes e
altivas acima das lides, da
[destruição do tempo, das crianças
se avolumando
[barulhentas ao redor,
ensinam o que é uma
biblioteca: um ato de amor.
E como ela perdura, ainda que os incendiários de
[Alexandria
continuem à espreita.
O corpo acabará, o som
morrerá na boca, antes de vir
[à luz,
os cachorros, as
árvores e os pássaros perecerão,
os filhos tomarão seus
caminhos como veias
[desligadas das artérias
e até aquela casa, onde
passei os melhores momentos
[de meu exílio,
Se extinguirá um dia.
Mas nela habita uma
carta
para que os outros
vivam.
E a ciência do futuro a
decifrará
assim como um dia
decifrou
Os papiros do Egito.
sábado, 31 de outubro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
domingo, 18 de outubro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
sábado, 10 de outubro de 2015
sábado, 3 de outubro de 2015
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
terça-feira, 22 de setembro de 2015
sábado, 19 de setembro de 2015
sábado, 4 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
quarta-feira, 11 de março de 2015
Quatro poemas de Paulo Neves
O nevoeiro
A alma acredita
que há uma terra sem mal
para além do nevoeiro,
um vale encantado, improvável,
mas não menos real
que o pulsar e a antimatéria.
E ela põe-se a caminho, à espera
de que o nevoeiro se abra.
E de tanto atravessá-lo
e ser por ela atravessada
descobre enfim sua veste branca
e aceita que ela mesma é o nevoeiro.
Francesco
Não foi virtude
o que ele viu na pobreza
mas o ultimo véu da carne.
E a carne é somente um meio
de abordar o enigma
que há na carne,
de receber os estigmas
que só se leem na carne.
Maborosi
Da última vez que ela o viu,
ele saiu andando,
levava um guarda-chuva.
Seu amor sem esperança
ficou ali parado
como um coração na chuva.
Pasto
Meus olhos na relva
onde as ovelhas pastam.
O sol declina os tons do verde
e a paz do campo me domina
como um cheiro imemorial.
O frio da relva é macio,
dá vontade de ser um focinho
e fechar os olhos.
Eu sei um segredo da terra.
Eu pasto.
Paulo Neves, "in" viagem, espera, Companhia das Letras, SP, 2006
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Orides Fontela
Olhando com atenção, daqui, deste lugar no tempo, já dá para adivinhar Orides Fontela.
NOTURNO
Os que nascem de noite
e, entre ossos, vigiam
o fogo
os que olham os astros
e, oprimidos, respiram
em cavernas
os que vão viver apesar
da escuridão e nos olhos
a luz clandestina
acendem
os que não sonham, os que nascem
de noite
não vieram brincar: seu peito
guarda uma só palavra.
Orides Fontela
NOTURNO
Os que nascem de noite
e, entre ossos, vigiam
o fogo
os que olham os astros
e, oprimidos, respiram
em cavernas
os que vão viver apesar
da escuridão e nos olhos
a luz clandestina
acendem
os que não sonham, os que nascem
de noite
não vieram brincar: seu peito
guarda uma só palavra.
Orides Fontela
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
domingo, 4 de janeiro de 2015
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