sexta-feira, 27 de abril de 2018

para assustar as comadres e "idealistas" em geral


"Que em meus escritos fala um psicólogo sem igual é talvez a primeira constatação a que chega um bom leitor – um leitor como eu o mereço, que me leia como os bons filólogos de outrora liam o seu Horácio. As proposições sobre as quais no fundo o mundo inteiro está de acordo – para não falar dos filósofos de todo mundo, dos moralistas e outros cabeças ocas, cabeças de repolho – aparecem em mim como ingenuidades do erro: por exemplo, a crença de que “altruísta” e “egoísta” são opostos, quando o ego não passa de um “embuste superior”, um “ideal” ... Não existem acões egoístas, nem altruístas: ambos os conceitos são um contra-senso psicológico. Ou a proposição: “o homem busca a felicidade” ... Ou “a felicidade é o prêmio da virtude” ... Ou “prazer e desprazer são opostos”... A Circe da humanidade, a moral, falsificou no cerne – moralizou – todos os psychologica, até chegar ao horrendo absurdo de que o amor deve ser algo “altruísta”... É preciso estar firmemente assentado em si, é preciso sustentar-se bravamente sobre as duas pernas, caso contrário não se pode absolutamente amar. Isso sabem as mulherezinhas muito bem, afinal: não sabem que diabo fazer com homens desisteressados, puramente objetivos... Posso, aliás, arriscar a suposição de que conheço  as mulherezinhas? É parte de meu dom dionisíaco. Quem sabe? Talvez eu seja o primeiro psicólogo do eterno-femin ino. Todas elas me amam – uma velha história: excetuando as mulherezinhas vitimadas, as “emancipadas”, as não aparelhadas para ter filhos. – Felizmente não estou disposto a deixar-me despedaçar: a mulher realizada despedaça quando ama... Eu conheço essas adoráveis mênades... Ah, que perigoso, insinuante subterrâneo bichinho de rapina! E tão agradável, além disso!  Uma pequena mulher correndo atrás de sua vingança seria capaz de atropelar o próprio destino. -  A mulher é indizivelmente mais malvada que o homem, também mais sagaz; bondade na mulher é já uma forma de degeneração ... No fundo de todas as chamadas “almas belas” há um inconveniente psicológico – não digo tudo, senão me tornaria medicínico.  A luta por direitos iguais é inclusive um sintoma de doença: qualquer médico o sabe. – A mulher, quanto mais é mulher, mais se defende com unhas e dentes contra os direitos em geral; o estado de natureza, a eterna guerra entre os sexos, dá-lhe de longe a primeira posição. – Houve ouvido0s para a minha definição de amor? É a única digna de um filósofo. Amor – em seus meios a guerra, em seu fundo o ódio de morte dos sexos. – Foi ouvida a minha resposta à questão de como se cura – se “redime” – uma mulher? Fazendo-lhe um filho. A mulher necessita de filhos, o homem é sempre somente o meio; assim falou Zaratustra. – “Emancipação da mulher” – isso é o ódio instintivo da mulher que não vinga, ou seja, não procria, à mulher que vingou – a luta contra o “homem” é sempre apenas meio, pretexto, tática. Ao elevarem  a si mesmas , como “mulher em si”, como “mulher superior”, como “idealista femin ina”, querem rebaixar a posição geral da mulher; nenhum meio mais seguro para isso do que instrução secundária, calças e direitos políticos de gado eleitoral.  No fundo as emancipada são as anarquistas do mundo do “eterno-feminino”, as que fracassaram, cujo instinto mais básico é a vingança... Todo um gênero do mais maligno “idealismo” – que aliás também ocorre em homens, por exemplo em Henrik Ibsen, essa típica solteirona – tem o objetivo de envenenar a boa consciência, a natureza no amor sexual... E para não deixar qualquer dúvida quanto às minhas convicções nesse ponto, tão honestas quanto estritas, comunicarei mais uma sentença contra o vício extraída do meu código moral: sob o nome de vício combato toda espécie de antinatureza, ou, para quem ama belas palavras, idealismo. A sentença diz: “A pregação da castidade é um incitamento público à antinatureza. Todo desprezo pela vida sexual, toda impurificação da mesma  através do conceito de ‘impuro’ é o próprio crime contra a vida – é o autêntico pecado contra o santo espírito da vida”.-"


Ecce homo, Friederich Nietzsche