"Antes, achava que sobreviver ao sofrimento deixava uma pessoa mais livre, que ela pertencia então apenas a si mesma. Que sua própria memória a defendia. Naquele momento estava descobrindo que não, nem sempre. Muitas vezes esse conhecimento, e até um conhecimento superior (que não acontece na vida costumeira), existe separadamente, como uma reserva intangível ou como poeira de ouro em uma mina de várias camadas. É preciso passar muito tempo limpando uma rocha vazia, revirar juntos o vazio do cotidiano, para enfim uma coisa brilhar! Oferecer-nos um presente!"
Svetlana Aleksiévitch, (tradução do russo por Cecília Rosas) em "a guerra não tem rosto de mulher" (pg. 120)