sábado, 5 de março de 2011

"Sobre a vida depois da morte"*


"[...] Infelizmente o lado mítico do homem encontra-se hoje freqüentemente frustrado. O homem não sabe mais fabular. E com isso perde muito, pois é importante e salutar falar sobre aquilo que o espírito não pode apreender, tal como uma boa história de fantasmas, ao pé de uma lareira e fumando cachimbo.
O que significam "na realidade" os mitos ou as histórias de uma sobrevida, ou qual a realidade que aí se dissimula, certamente não sabemos. Não podemos estabelecer se têm qualquer justificativa além do seu indubitável valor de projeção antropomórfica. É preciso claramente consentir que não existe nenhuma possibilidade de chegar-se a uma certeza nesses assuntos que ultrapassam nossa compreensão.
[...]Ora, o problema da morte deveria constituir o "centro de interesse" essencial para o homem que está envelhecendo, como também a oportunidade de familiarizar-se precisamente com essa possibilidade. Uma inelutável interrogação lhe é colocada e é necessária uma resposta de sua parte. Para esse fim ele deveria dispor de um mito da morte, porque a "razão" só lhe oferece o fosso escuro no qual está prestes a entrar; o mito poderia colocar sob seus olhos outras imagens, imagens auxiliares e enriquecedoras da vida no país dos mortos. Quem acredita nisso ou lhe concede algum crédito tem tanta razão como aquele que não crê. Mas aquele que nega avança para o nada; o outro, o que obedece ao arquétipo, segue os traços da vida até a morte. Certamente um e outro estão na incerteza, mas um vai contra o instinto, enquanto o outro caminha com ele, o que constitui uma diferença e uma vantagem para o segundo."*

*Carl Gustav Jung, "in" Memórias, Sonhos, Reflexões, Ed. Nova Froneira, Rio de Janeiro,2006

6 comentários:

  1. Belo discurso! Para quem crê e para quem nâo crê. Tem um sermão do Pe. Vieira que diz algo semelhante, só que mais carregado de ingredientes da religiosidade.
    Beijo.

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  2. Myrian,
    esta é uma tela inacabada (ainda); me diga: ela te sugere alguém?

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  3. Myrian,
    1) bobagem minha pensar que você não notaria (sobre a imagem);
    2) mas você deve ter dado muitas voltas no mundo, hein? uma moça que lê Vieira não é coisa que se encontre fácil.

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  4. Aydê,
    1) Para mim essa tela,em sua incompletude, está finalizada. Gosto das coisas inacabadas; conservam-me a ilusão que sempre poderei voltar à elas e dar-lhes continuidade.
    2) Quanto a Vieira, menos... o sermão a que me referi é o Quarta-feira de Cinzas. Nos meus bons tempos de Colégio Marista assisti 2 vezes a encenação -um monólogo por Silvionê ...não lembro os sobrenome- e gostei muito.

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