quinta-feira, 13 de setembro de 2012

mais glicínia


violeta contra azul


deixando o ninho

Hoje pela manhã os três sabiazinhos que nasceram no meu ateliê dias atrás deixaram o ninho. Neste exato momento estão tendo aula de sobrevivência sob uma pitangueira.
Desta vez os pais estavam bem agressivos. O macho não admitia que saíssemos para o quintal.

sábado, 8 de setembro de 2012

versos perdidos

Quando minha irmã morreu, lá se vão 37 anos, suas meninas não encontraram uma única linha das muitas que sabiam que ela escrevia. Imaginaram e lamentaram que a mãe, pressentindo o fim, tivesse escolhido não deixar vestígios da intimidade de seu espírito. Para mim também estava claro que ela escrevesse, porque uma vez me contou, a propósito de nosso aluamento comum, que encontrara entre suas coisas uns versos escritos com sua caligrafia, e ficara sem saber se eram dela ou se os copiara de algum livro. Por alguma razão ela me disse os versos e eu os retive na memória, sem nunca tê-los lido ou transcrito da fala de minha irmã. São estes:

"Essa que te segue calma
 pela areia deslizando
não é tua sombra, é minh'alma
que teus rastros vai beijando".

A irmã de que falo é essa polaquinha em primeiro plano, a segunda menina da esquerda para a direita.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Epigrama n.8"*

"Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente
                                                                     [onda.                                  
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha
                                                      [vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu
                                            [destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí."*

*Cecília Meireles, In Viagem, Global, São Paulo, 2012.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

"Desamparo"*

"Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o
                                                               [meu peito,
porque uma ondulação maternal de onda eterna
te levará na exata direção do mundo humano.

Mas no equilíbrio do silêncio,
no tempo sem cor e sem número,
pergunta a mim mesma o lábio do meu                                 
                                         [pensamento:

quem é que me leva a mim,
que peito nutre a duração desta presença,
que música embala a minha música que te embala,
a que oceano se prende e desprende
a onda da minha vida, em que estás como rosa ou
                                                                [barco...? "*


*Cecíclia Meireles, In Viagem, Global, São Paulo, 2012.