Bernardo Kucinski escolheu a
ficção – um romance - para contar a história verídica do “desaparecimento” de
sua irmã durante a ditadura militar. Talvez venha daí a força perturbadora dessa
narrativa: o que ele quer contar é tão terrível, que o mero documento não dá
conta; foi preciso apropriar-se do fingimento da arte para expressar-se
plenamente.
O centro de gravidade desse
romance, em que o autor finge a fala de toda a gente envolvida no caso, é um
pai devastado pelo sumiço kafkiano da filha e pela execração do nome dela por
seus pares na Universidade de São Paulo, onde era professora na época do
desaparecimento, pela sociedade em geral
e até pela comunidade judaica a que pertencia.
Nunca nenhuma narrativa dos
horrores da repressão me assustou tanto.
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