sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

sobre irmãos

"[...] Octave havia começado justamente por se sentir o protetor do menino que não se chamava ainda Rémo. Quando convidou o jovem Fernand a fazer em sua companhia a primeira viagem, perguntando-lhe onde desejaria ir, o menino respondeu: "Muito longe!". Daquela vez, ele o levou a Hanover. Mas, em todos os domínios, Rémo foi muito longe, e mais longe do que seu irmão mais velho. Antes mesmo de seus estágios em Weimar e em Iena, o estudante transformado em seu anjo da guarda, colocando de lado o próprio trabalho na universidade de Bruxelas, passou longas semanas a revisar o manuscrito do primeiro esforço literário de Octave, obrigando-o a reduzir pela metade as quinhentas páginas nas quais se sentia perdido há anos. Foi forçado a faltar aos seus próprios exames. Esse rapaz de dezessete anos, por uma preocupação de imparcialidade rara em qualquer idade, nada fizera para atenuar a maneira pessoal de externar as ideias que deplorava no irmão.[...] Depois da morte de Rémo , Octave se lembrará de que o jovem, quando eles passeavam juntos por uma vereda escarpada ou à beira de um rio, tomava sempre o lado do vazio, temendo uma distração ou uma vertigem do companheiro. Anotou um sonho, muitas vezes repetido, no qual, exposto a um perigo mortal, era salvo por seu jovem irmão. "Mas está morto!", exclamava admirado. - "Não me fales de mim", respondia caracteristicamente Rémo. "Eu não sei"."*

* Marguerite Yourcenar, "in" Recordações de Família.

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