"Eu também tive nos meus belos dias” a mania dos versos. No comecinho da década de 80 cheguei a inscrever um livro de poemas num concurso literário, Cruz e Souza, com sincera esperança de que enfim reconhecessem meu valor. Anos depois meu marido deu com os originais desse livro, um tal “Álbum de retratos”, por “João Abóbora”. Ele, crítico honesto diante de coisa quase nada, não teve dúvida: delicadamente desceu-lhe o sarrafo, como se diz lá na minha terra, e de quebra, como nossa intimidade permitisse, pinçou dali um verso que é um primor, quase uma caricatura de imagem comum, para volta e meia usá-lo em nossas conversas, quando quer que sua fala tenha um efeito, digamos, expressionista.
Porém, como as folhas apenas grampeadas do “Álbum” já então ameaçassem se desfazer de tanto rolar pelas gavetas da indiferença, da “nem sequer menção honrosa”, ele amorosamente redatilografou-o, isso mesmo, datilografou-o, página por página, arranjou-lhe capa, deu-lhe enfim encadernação modesta mas segura. É este o volume que guardo em minha coleção de cacarecos, junto com o álbum de poesias de minha infância, o da foto; o original, grampeei-o de volta e dei para uma irmã que tinha por ele grande apreço.
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