quarta-feira, 23 de maio de 2012
quarta-feira, 16 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
quarta-feira, 9 de maio de 2012
eu, o homem do facão
Meu pai, que me achava uma pessoa extremamente dura - e com razão, ao contrário do que muita gente pensa - costumava me dizer: "você é ruim como meu tio Rafael". Desse tio, ele contava que sempre que alguém lhe agradecia por qualquer coisa com o costumeiro "Deus o abençôe", ele invariavelmente retrucava: "não precisa".
terça-feira, 8 de maio de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
"A alma e a morte 6"
[...continuação]
"A natureza da psique mergulha em obscuridades, para além dos
limites de nossas categorias intelectuais. A alma encerra tantos mistérios
quanto o mundo com seus sistemas de galáxias diante de cujas majestosas
configurações só um espírito desprovido de imaginação é capaz de negar suas
próprias insuficiências. Esta extrema incerteza da compreensão humana nos
mostra que o estardalhaço iluminista é não somente ridículo, como também
lamentavelmente estúpido. Se alguém, portanto, extraísse da necessidade do próprio
coração, ou da concordância com as lições da antiga sabedoria da humanidade, ou
do fato psicológico de que ocorrem percepções “telepáticas”, a conclusão de que
a psique participa, em suas camadas mais profundas, de uma forma de existência
transespacial e transtemporal e que, por conseqüência, pertence àquilo que
inadequada e simbolicamente é designado pelo nome de “eternidade”, o único
argumento que a razão crítica lhe poderia opor seria o non liquet (não está provado) da ciência. Tal pessoa, além disso, possuiria
a inestimável vantagem de estar de acordo com a inclinação presente na psique
humana desde tempos imemoriais e universalmente existente. Quem por ceticismo,
rebeldia contra a tradição, falta de coragem ou insuficiente experiência
psicológica ou ignorância cega não extrai esta conclusão, tem muito pouca
chance, estatisticamente falando, de ser um pioneiro do espírito, embora esteja
firmemente cero de entrar em conflito com as verdades do próprio sangue. No
fundo, jamais conseguiremos provar que tais verdades sejam ou não absolutas. É
suficiente, porém, que elas existam como indicações da psique, e sabemos demais
o que seja entrar levianamente em choque com essas “verdades”. Equivale à
negação consciente dos instintos, isto é, a um desenraizamento, a uma
desorientação, à falta de sentido da existência, ou que outros nomes possam ter
estes sintomas de inferioridade. Um dos erros sociológicos e psicológicos mais
fatais de que nossa época é tão rica, foi o de pensar, muitas vezes, que alguma
coisa pode mudar de um momento para outro, por exemplo: que a natureza do homem
pode mudar radicalmente, ou que podemos descobrir uma fórmula ou ma verdade que
seja um começo inteiramente novo etc. Qualquer mudança essencial ou mesmo uma
simples melhoria significa um milagre. O distanciamento das verdades do sangue
produz uma agitação neurótica cujos exemplos abundam em nossos dias. Esta
agitação, por sua vez, gera a falta de sentido da existência, falta esta que é
uma enfermidade psíquica cuja amplidão e alcance total nossa época ainda não
percebeu."*
JUNG, C.G. In A natureza da psique, Ed. Vozes, Petrópolis, 2011.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
"A alma e a morte" 5
[...continuação]
"Saber de que modo se deve, afinal, interpretar estas
experiências é um problema que supera a competência de uma ciência empírica e
ultrapassa nossas capacidades intelectuais, pois, para se chegar a uma
conclusão, é preciso que se tenha necessariamente também a experiência real da
morte. Este acontecimento, infelizmente, coloca o observador numa situação que
lhe torna impossível transmitir uma informação objetiva de sua experiência e
das conclusões daí resultantes.
A consciência se move dentro de estreitos limites, dentro do
curto espaço de tempo entre seu começo e seu fim, encurtado ainda mais em cerca
de um terço por períodos de sono. A vida do corpo dura um pouco mais, começa
sempre mais cedo e, muitas vezes, só cessa depois da consciência. Começo e fim
são aspectos inevitáveis de todos os processos. Todavia, se examinarmos de
perto, verificamos que é extremamente difícil indicar onde começa e onde
termina um processo, porque os acontecimentos e os processos, os começos e os
fins constituem, no fundo, um contínuo indivisível. Distinguimos os processos
uns dos outros, com o fim de defini-los e conhece-los melhor, mas, no fundo,
sabemos que toda divisão é arbitrária e convencional. Este procedimento não
interfere no contínuo do processo mundano porque “começo” e “fim” são, antes e
acima de tudo, necessidades do processo de conhecimento consciente. Podemos
certamente afirmar, com bastante certeza, que uma consciência individual chegou
ao fim enquanto relacionada conosco. Mas não é de todo certo se isto interrompe
a continuidade do processo psíquico, porque hoje em dia não se pode afirmar a
ligação da psique com o cérebro, com tanta certeza quanto há cinqüenta anos[U1] .
Primeiro que tudo, a Psicologia precisa ainda de digerir certos fatos
parapsicológicos, o que não fez até agora.
Quer dizer, parece que a psique inconsciente possui
qualidades que projetam uma luz inteiramente singular sobre sua relação com o
espaço e o tempo. Refiro-me aos fenômenos telepáticos espaciais e temporais
que, como sabemos, é mais fácil ignorar do que explicar. Sob este aspecto a
ciência até agora escolheu (com bem poucas exceções) o caminho mais cômodo, que
é o de ignora-los. Devo, porém, confessar que as chamadas capacidades
telepáticas me causaram muita dor de cabeça, porque a palavra-chave “telepatia”
longe está de explicar o que quer que seja. A limitação da consciência no tempo
e no espaço é uma realidade tão avassaladora, que qualquer desvio desta verdade
fundamental é um acontecimento da mais alta significação teórica, pois provaria
que a limitação no tempo e no espaço é uma determinante que pode ser anulada. O
fator anulador seria a psique, porque o atributo espaço-tempo se ligaria a ela,
consequentemente, no máximo como qualidade relativa e condicionada. Em
determinadas circunstâncias, contudo, ela poderia romper a barreira do tempo e
do espaço, precisamente por causa de uma qualidade que lhe é essencial, ou
seja, sua natureza transespacial e transtemporal. Essa possibilidade de
transcender o tempo o e espaço, que me parece muito lógica, é de tão grande
alcance, que estimularia o espírito de pesquisa ao maior esforço possível. O
desenvolvimento atual de nossa consciência, contudo, está tão atrasado (as
exceções confirmam a regra!) que, em geral, falta-nos ainda o instrumental
científico e intelectual para avaliar adequadamente os fatos da telepatia
quanto à sua importância para o conhecimento da natureza da psique. Refiro-me a
este grupo de fenômenos, simplesmente para indicar que a ligação da psique com
o cérebro, isto é, sua limitação no espaço e no tempo, não é tão evidente nem
tão indiscutível como até agora nos têm feito acreditar.
Quem conhece, um mínimo que seja, o material psicológico já
existente e suficientemente testado, sabe muito bem que os chamados fenômenos
telepáticos são fatos inegáveis. Um exame crítico e objetivo dos dados
disponíveis nos permite verificar que alguma dessas percepções ocorrem de tal
maneira, como se não existisse o fator espaço, e outras como se não houvesse o
fator tempo. Naturalmente não podemos tirar daí a conclusão metafísica de que
no mundo das coisas “em si” não há espaço nem tempo, e que, consequentemente, a
mente humana se acha implicada na categoria espaço-tempo como em uma ilusão nebulosa[U2] .
Pelo contrário, verifica-se que o espaço e o tempo são não apenas as certezas
mais imediatas e mais primitivas para nós, como são também empiricamente
observáveis, porque tudo o que é perceptível acontece como se estivesse no
tempo e no espaço. Em vista desta certeza avassaladora, é compreensível que a
razão sinta a maior dificuldade em admitir a validade da natureza peculiar dos
fenômenos telepáticos. Mas quem fizer justiça aos fatos não pode deixar de
admitir que sua aparente in dependência em relação ao espaço e ao tempo é sua
qualidade mais essencial. Em suma, nossas percepções ingênuas e nossas certezas
mais imediatas não são, estritamente falando, mais do que evidências de uma
forma de intuição psíquica a priori
que exclui qualquer outra forma. O fato de sermos totalmente incapazes de
imaginar uma forma de existir independente do tempo e do espaço não prova
absolutamente que tal existência seja impossível. E da mesma forma como de uma
aparente independência em relação ao espaço e ao tempo não podemos tirar a
conclusão absoluta quanto à realidade de uma forma de existência independente
do espaço e do tempo, assim também não nos é permitido concluir , a partir do
caráter aparentemente espacial e temporal de nossas percepções, que uma
existência independente em relação ao
espaçoe ao tempo é impossível.. Em vista dos dados fornecidos pela experiência,
não somente nos é permitido, mas é imperioso duvidar da validez de nossa
percepção espacial-temporal. A possibilidade hipotética de que a psique toque
também em uma forma de existência independente em relação ao espaço e ao tempo
constitui um ponto de interrogação que deve ser levado a sério, pelo menos por
enquanto. As idéias e as dúvidas de nossos físicos modernos devem aconselhar
aos psicólogos a serem prudentes, porque o que significa, filosoficamente
falando, “a limitação do espaço” senão uma relativização da categoria espaço?
Algo de semelhante pode facilmente acontecer com a categoria tempo (como também
com a causalidade). As dúvidas a este respeito, hoje em dia, têm menos
fundamento do que as de outrora[U3] ."*
[continua...]
JUNG, C.G. In A natureza da psique, Ed. Voze, Petrópolis, 2011.
[U3]Jung
certamente acompanhou o desenvolvimento da física moderna a partir da virada
dos séculos XIX/XX e ficou encantado com a forma “herética” com que esta
sondava a Natureza, em oposição à física clássica. Chegou emsmo a desenvolver
um trabalho (Sincronicidade) junto com um físico queue foi seu paciente.
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