domingo, 18 de abril de 2010

virado viajado (a pedido da Zazá)


Em outros tempos, quando o mundo era bem maior, tinha muito menos gente, os veículos eram outros e as estradas às vezes nem existiam, era impensável sair em viagem qualquer sem levar um farnel farto, planejado para durar um bom tempo além do normal previsto para o percurso. Foi assim, por exemplo, que vim a conhecer o pão sírio, que os turcos donos da serraria na Saudade (na verdade eram sírios mesmo) levavam de São Paulo, cheio de quibe frito ou assado; na viagem de volta eles iam com o pão caseiro e o virado de galinha de minha mãe, pelo qual eram capazes de se bater em duelo.
Bem antes disso, no tempo de minha mãe e meus tios meninos, meu avô tinha “negócio”, como se chamavam os armazéns antigos, num lugarzinho de nada chamado Bom Jardim, no interior do Paraná. Era uma propriedadezinha considerável, a julgar pelo croquis que dois de meus tios, já velhos, reconstituíram de memória para mim, com casa espaçosa conjugada ao negócio, instalações da padaria, horta e pomar, galinheiro, chiqueiro e uma boa área para os cavalos. Acontecia às vezes de meu avô desejar um virado de galinha, mas virado viajado, e em lombo de cavalo, em cujo suor, segundo ele, acabava de se temperar o dito cujo. Minha avó então se programava para no dia seguinte cedinho estar com a iguaria pronta para a viajem, acondicionada num saco de pano muito branco; mas, não sendo o caso de viagem nenhuma, encilhava-se um cavalo e mandava-se que meu tio Darci, o menino mais velho, ficasse a cavalgar pelo potreiro até que desse a hora do almoço, quando então deveria “chegar” com o virado bem sacolejado na anca do animal, para alegria de todos.
Dia desses dou a receita.

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