sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Por que as mulheres comem restos


(imagem de Petr David Josek)
Depois que meus filhos nasceram há coisas que eu só como se sobrarem: a última porção que ficou na travessa depois que todos já se empanturraram, ou, o que é mais comum (sob engulhos e vaias da platéia indignada), as aparas, os restos rejeitados do prato de cada um. Meu marido atribui esse hábito feio a um abominável franciscanismo de que gosta de me acusar; no fundo ele sabe que não se trata disso, pois já me contou que sua primeira mulher fazia coisa parecida. Ora, eu não conheço mulher “normal” que não o faça. Que me atire a primeira pedra a mãe – mãe normal - que consiga abrir e comer sem culpa um danoninho inteiro, limpinho e só dela, ainda que a geladeira esteja abarrotada de danoninhos.
Eu já contei aqui que tivemos uma cadela, criatura elegante e de espírito refinado, chamada Olívia. A Olívia, quando tinha filhotes já taludos, em idade de consumir comida sólida, era incapaz de se servir de qualquer bocado que já não estivesse bem roído, babado, revirado, triturado em mil pedacinhos e disperso pelo quintal pela criançada. Se a separávamos dos filhotes bem saciados e insistíamos que aceitasse de nossa mão um belo pedaço de carne, por exemplo, ela educadamente o abocanhava e ficava por ali disfarçando, até que finalmente conseguisse entregar a guloseima aos miúdos. Se daí sobrasse alguma coisa, ela comia.
Pois as mulheres, como as fêmeas de qualquer espécie, têm impulsos atávicos que os homens são incapazes de compreender.

5 comentários:

  1. Você sempre deixava para mim o último pedaço (cinho) do pão com molho dividido.
    Em compensação, eu já comi um danoninho limpinho e novinho só pra mim, mas você tem razão: dói, não deu pra repetir o ato!
    Beijo.

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  2. Myrian,
    e me diga se você também já não tentou reproduzir um molho cujo gosto lembrasse o daquele, tão comum, e achar um pão que tivesse aquelas mesmas consistência e textura ordinárias?

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  3. VOCÊ ESTÁ FALANDO DO "CHISKOIEDE" E DO PÃO VELHO, QUASE BOLORENTO... inúmeras vezes. Nunca acertei. Talvez porque só aceite ser feito a quatro mãos!
    BEIJO.

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  4. Pois haveremos de acertá-lo juntas.
    Me diga, "chiskoiede", de onde vem isso? "chis" é evidente, mas "koiede" deve ser um "paranismo" que já me escapa, depois de tantos anos de outras caipiragens.

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  5. Desconheço a "etimologia", mas era usado como
    apelido de qualquer iguaria improvisada. Acho que é uma piadinha polonesa, ou de um outro povo branquelo, sei lá...
    Agora me lembro que o nosso chiskoiede foi batizado de "Come mas não olha", devido à sua sugestiva aparência. Eca!

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