quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
A Saga de Gösta Berling
Dos romances de Selma Lagerlöf conheço dois: “O Imperador de Portugal” e este “A Saga de Gosta Berling”, que acabei de ler por estes dias. O primeiro (o mais tardio dos dois), bem menor, me pareceu – como romance - mais bem realizado, mais submetido à mão firme da escritora. Se o “A Saga de Gosta Berling” tivesse recebido outro título, algo como “aquele ano na província de Värmland”, por exemplo, talvez eu não tivesse ficado com a impressão de que o personagem do título, Gösta Berling, funciona apenas como o fio condutor de várias histórias contíguas (à maneira do condutor do trem no Dodeskaden de Kurosawa, ou do corvo, no Kaos dos irmãos Taviani). É uma falsa impressão, reconheço, mas ocorre que as outras personagens, as histórias das outras personagens, e principalmente o tratamento que a escritora dá às histórias das outras personagens são tão fortes, que o drama central, o do padre exonerado e proscrito, parece diluir-se. O que acontece na verdade é que vários capítulos desse romance têm a força de contos, e contos extraordinários, com vida quase independente. Assim é com “A morte libertadora”, “O patrão Julius”, “O cemitério” e “Os santos de barro”, de que me lembro de imediato. Em “Os santos de barro” estão reunidas em grande estilo as características que mais admiro na escritora: o ritmo perfeito, as imagens poderosas - aqui, na prosa, essas qualidade tão caras à poesia – a facilidade com que ela faz transitar suas personagens entre a aspiração ao sublime e a subjugação à realidade patética, entre o grotesco e de novo o sublime. Esse capítulo é de fato tão belo que é possível que eu o transcreva aqui, por esses dias.
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