sábado, 7 de dezembro de 2013

um fragmento

     "Axel não tirava os olhos da cachoeira. A torrente límpida, como uma coluna luminosa por entre o musgo e as pedras, mantinha inalterado seu nobre traçado por todas as horas do dia e da noite. No lugar em que a água ao rolar batia numa pedra, projetava-se uma pequena cascata, que também permanecia imutável como uma rachadura fresca no mármore da catarata. Se voltasse dentro de dez anos, encontraria a cascata inalterada,como uma obra de arte harmoniosa e imortal. Mas ainda assim, a cada segundo, novas partículas d'água eram lançadas por cima da margem, caindo no precipício e desaparecendo. Era um vôo, um turbilhão, uma catástrofe incessante.
     Haverá, na vida, pensou ele, fenômenos similares? Há um modo de existir equivalente, paradoxal, um voar e fugir estático, imperturbável, clássico? Na música, existe, e é o que se chama Fuga:

     D'un air placide et triomphant,
     Tu passes ton chemin, majestueux  enfant."

BLIXEN, Karen. In "Os invencíveis senhores de escravos", CONTOS DE INVERNO, Editora 34, Rio de janeiro, 1993

Nenhum comentário:

Postar um comentário