sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Balõezinhos [a propósito da necessidade de poesia]

Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
_ "O melhor divertimento para as crianças!"
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito [redondos.

No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.

Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de
[cor são a única mercadoria útil e
verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa:
_"O melhor divertimento para as crianças!"
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem
[um círculo inamovível de desejo e espanto."


Manuel Bandeira, In ESTRELA DA VIDA INTEIRA, Liv. José Olímpio Ed., Rio de Janeiro, 1980.

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