quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Estranhamento poético (em série)

Há muitos anos já, saindo para levar dois de meus filhos ainda bem pequenos para a escola, fui surpreendida por um nevoeiro tão espesso que mal se podia perceber qualquer coisa poucos metros à frente do carro. A situação evocou-me a imagem de uma outra, vivida muito tempo antes, com tal força que eu falei aos meninos de repente, sem nenhum preâmbulo: “Uma vez, numa manhãzinha assim de muita névoa, num lugar chamado Balsa do Cantú, eu vi amamentarem dois filhotes órfãos: um bezerro e um cabritinho”. Após alguns segundos de silêncio cavernoso, o menino mais velho disse: “como era mesmo, mãe, o nome desse lugar?” E em seguida o menorzinho: “ah, mãe, confessa, isso não é verdade, é poesia!”

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