quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Caim



Implico demais com uns maneirismos modernos, como não usar maiúsculas, não pontuar, pontuar de forma “inusitada”, e coisinhas do gênero. Penso que na literatura qualquer transgressão das regras formais que não tenha função muito objetiva é absolutamente dispensável. Por isso, da primeira vez que tentei ler Saramago, não me recordo o que era, joguei longe o livro logo nas primeiras páginas. Mas alguns meses atrás dei com esse “Caim” e fiquei francamente encorajada com sua primeira e evidente virtude: é curto. Ora, Caim é de saída e desde sempre grande personagem, provavelmente o mais emblemático da condição humana, distinguido pelo arbítrio divino com aquela marca que é ao mesmo tempo desonra e privilégio. Pois Saramago, distinguido ele próprio com a marca do humor e da inteligência (que na verdade são amantes inseparáveis), e inconformado com a “existência” do Deus arbitrário, vaidoso, cruel e caprichoso do Antigo Testamento, toma pela mão esse Caim abandonado a seu destino e o conduz de forma admirável a um surpreendente e catártico desfecho da “História”.
Preciso urgentemente ler Saramago, principalmente o “Evangelho segundo Jesus Cristo”. Mas que ele bem podia usar o ponto de interrogação, lá isso podia.

4 comentários:

  1. risos
    Ui de que livro tu foste falar!
    Por cá (Portugal) deu a maior polémica com a Igreja. Nem imaginas as discussões.
    Mas eu, estou completamente de acordo com o que dizes.

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  2. Pois, doce laranja amarga, por aqui não ouvi rumor de polêmica nenhuma. Eu não saberia te dizer se isto se deve aos ares diferentes daqui ou se ao fato de que a literatura de respeito nunca consegue entre nós juntar leitores bastantes (nem mesmo entre o clero, que deveria ser mais lido) para uma boa briga.
    É pena.

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  3. Você escreve muito bem! Já pensou em arriscar-se a escrever um romance?

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  4. Obrigada, Takeuchi.Nunca me passou pela cabeça escrever um romance. Já me arrisquei com o conto, que é meu gênero preferido. Lá atrás, em postagens mais antigas, estão todos os contos que já "cometi" (Campo de Agrião, Um Vaso, Dioloro, Guevara, Dia sem Deus, Lapso e Branca). Só gosto de Campo de Agrião e talvez Dioloro.
    Um abraço.

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