terça-feira, 30 de novembro de 2010

E tem sempre o enorme e aristocrático Manuel Bandeira


POEMA PARA SANTA ROSA

Pousa na minha a tua mão, protonotária.
O alexandrino, ainda que sem a cesura mediana, aborrece-me.
Depois, eu mesmo já escrevi: Pousa a mão na minha testa,
e Raimundo Correia: "Pousa aqui, etc."
É pouso demais. Basta Pouso Alto
Tão distante e tão presente. Como uma reminiscência da infância.

Pousa na minha a tua mão, protonotária.
Gosto de "protonotária".
Me lembra meu pai.
E pinta bem a quem eu quero.
Sei que ela vai perguntar: - O que é protonotária?
Responderei:
- Protonotário é o dignitário da Cúria Romana que expede, nas grandes causas, os atos que os simples notários apostólicos expedem nas pequenas.
E ela: - Será o Benedito?
- Meu bem, minha ternura é um fato, mas não gosta de se mostrar:
É dentuça e dissimulada.
Santa Rosa me compreende.

Pousa na minha a tua mão, protonotária.


MANUEL BANDEIRA, "In" POESIA COMPLETA E PROSA, Ed. Nova Aguilas S.A., RJ, 1985

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