Já contei aqui que passei pouco mais de três anos da minha infância numa vila de serraria, há muito varrida do mapa, num lugar chamado Saudade. Pois nesse lugar às vezes era ocasião de festa, não sei dizer a troco de quê nem em que época do ano, mas certamente festa religosa, com a presença do turco dono da serraria, Elias Abrahão Maia (seu Didi), que não era turco mas sírio, sua mulher, dona Yolanda, às vezes mais gente de sua numerosa família, e, glória suprema, um padre que ia dizer missa de verdade, todos hospedados em minha casa, que era também o quartel general da serraria e tinha até rádio amador. Tenho vagas e esparsas lembranças dessas ocasiões, mas o de que mais me lembro, além da festa, é claro, com missa, procissão, e muito churrasco, pepino azedo e tal, é que minha mãe fazia macarrão para servir aos hóspedes em casa, primeiro umas placas grandes que ela secava na chapa do fogão a lenha antes de cortá-las em fitas. Eu sempre ganhava uma placa daquelas, deixada mais tempo na chapa para ficar tostadinha, mas seu Didi, que era um gordo muito guloso, sempre a roubava de mim, dizendo: “vai pedir outra para sua mãe”.
A foto acima foi tirada em 1959, eu imagino, durante um churrasco numa dessas festas. O homem de chapéu à direita é meu pai; ao seu lado está Seu Wile, sub-gerente da serraria que morava numa casa exatamente igual e simétrica à minha, do outro lado da rua. A polaquinha atracada com um sonho de goiabada sou eu, ao lado de minha mãe (os sonhos estavam nessa lata grande no chão, lembro como se fosse hoje).
Das outras pessoas na foto reconheço só a parte de cima da cabeça de uma de minhas irmãs, professora muito brava da escolinha da vila, oculta pelo rapaz em primeiro plano. Essa minha irmã, a mais parecida comigo, tinha um amor exacerbado por nosso pai. Lembro dela dizendo que queria muito morrer antes dele, porque não suportaria vê-lo morto. De fato ela o precedeu, ainda bem jovem, com uns trinta e poucos anos. Estava sozinha com ela quando isso aconteceu e segurei sua mão enquanto ela morria, razão pela qual espero que ela venha me receber quando for a minha vez. Certamente teremos muito que conversar.
Que linda história e que foto maravilhosa! Esse tipo de imagem é o tipo que me comove, pois diz muito.
ResponderExcluirOi querida irmã... Que saudade de tudo e de todos, você tão lindinha. E Papai, o homem mais bonito que já conheci. Beijos.
ResponderExcluirAyde, que saudade dos tios. a Sueli tem razão, o tio era realmente um homem muito bonito e bonzinho também. Tenho muita saudade da broa de caçarola que a tia fazia. Bons tempos. Beijos.
ResponderExcluirKeia,
ResponderExcluirEu também tenho saudade de tudo, embora ache que sou bem mais feliz agora do que fui na infância (mesmo considerando os dias felizes que passei em tua casa). Não te parece que depois de tanto tempo tudo que passou ganha um novo significado?