quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Para quem tem pirralhos



Ainda que com toda a tecnologia de entretenimento moderna à mão, meus filhos, os dois primeiros pelo menos, preferiam a qualquer coisa que eu lhes contasse uma história, de preferência inventada por mim mesma (meu terceiro filho já nasceu preferindo contar ele mesmo as histórias). Eu nunca tive muita imaginação para isso mas fazia o possível, e uma dessas histórias, por conta de não sei que ingredientes, chegou a fazer grande sucesso com os meninos, até já bem crescidos: bastava eu ameaçar contá-la para que deixassem imediatamente o que estivessem fazendo para ouví-la.
Reproduzo-a abaixo, para a eventualidade de alguém com pequenos querer aproveitá-la, com a recomendação de que deve ser interpretada dramaticamente.



O TIO PORCÃO
(para o porquinho mais velho)


Era uma vez três porquinhos que moravam numa floresta.

Um dia o porquinho mais velho disse:

_ Que tal se amanhã a gente fosse visitar o tio Porcão?
_ Oba! Oba! Eu quero, eu quero, eu adoro o tio Porcão! – gritaram os irmãozinhos.
_ Então vamos preparar nossas mochilas e dormir bem cedo hoje, porque a casa do tio Porcão fica muito, muito longe, lá do outro lado da floresta, e a gente vai ter que levantar amanhã de madrugada, para chegar na casa do tio antes de anoitecer.

Então, na manhã seguinte, bem cedinho, antes mesmo do sol nascer, ainda no escuro, eles levantaram, tomaram seu café da manhã, prepararam um lanche gostoso para levar, subiram nas suas bicicletas voadoras, e zuuum, foram voando por cima da floresta, para a casa do tio Porcão.

Acontece que naquela floresta morava também um lobo muito, muito mau, que vivia querendo comer porquinho assado, porquinho frito, porquinho cozido, porquinho de qualquer jeito. E eis que lá estava o lobo andando à toa pela floresta, quando de repente olha para cima e vê lá no céu os três porquinhos nas suas bicicletas voadoras.

_ Olha só o que eu vejo, gente! Aonde será que vão aqueles três? Ora, pra onde quer que eles estejam indo, uma hora vão ter que descer, e aí eu vou estar embaixo esperando por eles. É hoje que eu saboreio uns torresmos deliciosos.

E assim foi. Enquanto os porquinhos voavam lá em cima, o lobo os acompanhava pelo chão, cuidando para não ser visto. Ao meio dia os porquinhos estavam já com muita fome e resolveram parar para almoçar. Mas, como eles não eram bobos nem nada, e já desconfiavam que o lobo pudesse tê-los seguido, pousaram suas bibicletas na copa de uma árvore muito alta, muito grande, e trataram de se arranjar ali para comer. Abriram sua toalha xadrez especial de piquenique sobre a ramagem da árvore, espalharam ali as guloseimas que haviam trazido e começaram a se deliciar: tinha bolo de milho, panqueca de milho, pudim de milho, farofa de milho, pastel de milho, suco de milho, sorvete de milho, e também milho.

Lá embaixo, no pé da árvore, quietinho para não ser visto pelos porquinhos, estava o lobo, com tanta fome, tanta fome, que chegava a sonhar com uma bela espiga de milho. E olha que ele não gostava nem um pouco de milho. Comida gostosa para o lobo era carne, carne, carne. Mas, enquanto ele não caçava a carne... “bem que esses porquinhos podiam deixar cair alguma coisa pra eu fazer uma boquinha”, pensou ele.

Porém, os porquinhos não deixaram cair nada, nem uma migalhazinha de bolo de milho.

Depois que os três se fartaram de comer, o mais velho falou:

-Gente, quem quiser fazer xixi, que faça agora, porque depois a gente só vai ao banheiro na casa do tio Porcão. Então, lá de cima da árvore, os três fizeram um xixi comprido, sem saber que lá embaixo estava o lobo. E o coitado do lobo, que não queria nem se mexer para não ser visto, acabou todo encharcado de xixi:
-Ai, ai, o que a gente não faz por um leitãozinho à pururuca – pensou ele, todo sem graça.

Então os porquinhos subiram em suas bicicletas voadoras e foram voando outra vez por cima da floresta. Muito tempo depois, quando já estava para anoitecer, eles avistaram lá longe uma fumacinha, e o mais velho disse:

-Vejam, vejam! É a chaminé da casa do tio Porcão! Vamos, vamos, apressem a pedalada, que daqui a pouco a gente chega!

Dito e feito. Justo quando anoitecia, os três porquinhos pousaram suas bicicletas na porta da casa do tio Porcão e bateram: toc-toc-toc. O tio, que estava na cozinha preparando uma bela sopa de repolho com pãezinhos de milho para o jantar, pensou:

-Ora, ora, quem seria a uma hora dessas? - e foi abrir a porta. - Meus sobrinhos queridos! São vocês mesmos! Que alegria! Que coisa boa! Que bom que vocês vieram! Entrem, entrem, venham tomar a sopa deliciosa com pãezinhos de milho que eu acabei de fazer.

Então os porquinhos entraram, contaram ao tio as novidades e se empanturraram de sopa de repolho com pãezinhos de milho. Enquanto isso, lá fora, no escuro e no frio, bem escondido atrás de uma pedra, o lobo pensava com seus botões: “nossa, que porcão enorme e assustador! Não vai ser nada fácil eu pegar aqueles deliciosos porquinhos com esse tio por perto!”

Lá dentro, depois que os porquinhos jantaram e ajudaram a lavar os pratos, o tio Porcão disse:

_ Meninos, vocês vieram em muito boa hora. Sabem o que nós vamos fazer amanhã? Uma bela pescaria. Já para a cama, que amanhã a gente sai bem cedo.
_ Oba! Oba! – gritaram os porquinhos, e foram correndo dormir, para a hora da pescaria chegar mais depressa.

Na manhãzinha seguinte, assim que o sol apontou no horizonte, saíram os cinco: o tio Porcão na frente, com um enorme facão ia abrindo o caminho pela floresta, os porquinhos iam saltitando atrás do tio e, atrás dos porquinhos, bem atrás, escondido, ia o lobo, só esperando uma hora boa para dar o bote.

Quando estavam no meio da viajem, o tio Porcão, que ia muito concentrado em limpar o caminho, notou que já há alguns minutos não ouvia atrás de si a algazarra dos sobrinhos, virou-se e... cadê os três porquinhos?

_ Onde é que se meteram aqueles pirralhos? - Pensou o tio – e foi voltando, bem quieto, para ver o que tinha acontecido. E eis que de repente ele vê o lobo, já com os três porquinhos amordaçados e amarrados, pronto para levá-los embora.

O tio Porcão, que era mesmo um porco enorme e assustador, e sabia roncar como só um porcão sabe, chegou pé ante pé por trás do lobo e roncou o seu ronco especial de porcão enorme, assustador e bravo. O lobo levou um susto tão grande que caiu para trás com os olhos arregalados e os pelos eriçados. O tio, muito rápido, desamarrou os porquinhos, aproveitou que o lobo estava sem se mexer de susto, e amarrou-o bem amarrado no tronco de uma árvore.

_ Seu lobo safado! – o tio disse – você vai ficar aí o dia inteiro para aprender a não se meter com os meus sobrinhos.

Pois lá ficou o lobo, bem amarrado, enquanto os quatro iam felizes para a pescaria. E foi mesmo uma pescaria inesquecível. Era tanto peixe, e tão grandes, que às vezes o tio tinha que ajudar os sobrinhos a puxá-los para fora d’água. Na hora do almoço eles fizeram fogo no chão e assaram um delicioso peixão.

No final do dia, quando eles estavam voltando para casa, carregados de peixes, encontraram o lobo ainda amarrado na árvore, quase branco de fome. O tio Porcão, que era bravo mas não era mau, desamarrou o lobo, pegou um belo peixe de dentro do saco de peixes e disse:

_ Toma aqui esse peixe, seu lobo safado, e nunca mais se atreva a mexer com meus sobrinhos.

O lobo, mais do que depressa, agarrou o peixe e sai correndo com o rabo entre as pernas: “cain, cain, cain”.

À noite, quando chegaram na casa do tio, eles ajudaram a guardar os peixes, jantaram e foram dormir felizes, imaginando a coisa divertida que o tio Porcão arranjaria para fazerem no dia seguinte.

Um comentário:

  1. Muito interessante essa história.
    Você tem imaginação.
    Um abraço,
    Therezinha

    ResponderExcluir