A Olívia apareceu misteriosamente em nossa vida em 1990; imagino que fosse a última de uma ninhada de filhotes, pois já era de tamanho adulto quando chegou, e que, sem conseguir quem a adotasse, tenha sido abandonada à própria sorte em nossa rua. Tirando meu pai e minha prima Têca, foi, de longe, a criatura mais elegante e delicada que conheci. Na presença dela tive sempre a sensação de estar diante de um espírito depurado, de um ser superior a quem eu devesse reverenciar.
Como em geral acontece com os cachorros, apaixonou-se perdidamente por meu marido. De manhã, se ele trabalhava em casa, acompanhava-o até o escritório e ficava por lá o tempo que ele ficasse. Se ele estava fora, e era, ao final do dia, hora de chegar, ela postava-se no meio da rua com as pernas dianteiras cruzadas, as almofadinhas das patas contra o asfalto, o focinho firmemente apontado para diante e as orelhas em posição de parabólicas; quando um desses sensores anunciava a presença dele na esquina, ela atirava-se em desabalada carreira para encontrá-lo, festejá-lo e percorrer com ele o restante do trajeto até nossa casa, exibindo-o e exibindo-se aos outros cachorros da rua, que, presos, latiam furiosamente inconformados com a dupla provocação: a de ela andar solta e perto do dono.
Entretanto, quando ela tinha filhotes a presença dele deixava-a sempre ligeiramente estressada, coisa, aliás, que não era de espantar, porque ele era tomado por uma espécie de “amor de mula”: volta e meia lá estava ele a cobrir os cãezinhos de beijos, a mordiscar orelhinhas e rabinhos. Já para as últimas ninhadas ela conseguiu retirar uns tijolos de uma churrasqueira velha no fundo do quintal e fez lá dentro dela uma toca praticamente inacessível. Nos primeiros dias ele se continha, respeitava o arranjo; mas, estando a criançada mais taludinha, e a mãe saindo da toca para cuidar um pouco de si mesma, ele dava um jeito de alcançar algum bichinho e trazê-lo para fora. Quando nessas ocasiões ela me buscava pela casa, e com o olhar e gestos aflitos me pedia que a acompanhasse, eu entendia que devia segui-la até o local e passar uma descompostura em meu marido para que ele deixasse em paz os nenéns, após o que ela retomava o seu posto, até o próximo episódio.
Com os meus filhotes ela era extremamente cuidadosa. Uma das lembranças mais delicadas que tenho da Olívia é a dela tentando pegar um pedaço minúsculo de biscoito bem babado que meu filho neném lhe oferecia, sem tocar nos dedinhos, mas sem desistir, pois além de tudo ela era incapaz de recusar qualquer coisa que lhe oferecessem, nem que fosse para ir jogar no quintal, como acontecia quando algum desavisado lhe oferecia uma salsicha, por exemplo.
Infelizmente não tenho uma boa foto dela para mostrar aqui. Mas ela era uma viralata comum, do mesmo tamanho, da mesma cor e muito muito parecida com a princesa Karina, que tem aparecido neste blog. O olhar era um pouco mais doce.
Como em geral acontece com os cachorros, apaixonou-se perdidamente por meu marido. De manhã, se ele trabalhava em casa, acompanhava-o até o escritório e ficava por lá o tempo que ele ficasse. Se ele estava fora, e era, ao final do dia, hora de chegar, ela postava-se no meio da rua com as pernas dianteiras cruzadas, as almofadinhas das patas contra o asfalto, o focinho firmemente apontado para diante e as orelhas em posição de parabólicas; quando um desses sensores anunciava a presença dele na esquina, ela atirava-se em desabalada carreira para encontrá-lo, festejá-lo e percorrer com ele o restante do trajeto até nossa casa, exibindo-o e exibindo-se aos outros cachorros da rua, que, presos, latiam furiosamente inconformados com a dupla provocação: a de ela andar solta e perto do dono.
Entretanto, quando ela tinha filhotes a presença dele deixava-a sempre ligeiramente estressada, coisa, aliás, que não era de espantar, porque ele era tomado por uma espécie de “amor de mula”: volta e meia lá estava ele a cobrir os cãezinhos de beijos, a mordiscar orelhinhas e rabinhos. Já para as últimas ninhadas ela conseguiu retirar uns tijolos de uma churrasqueira velha no fundo do quintal e fez lá dentro dela uma toca praticamente inacessível. Nos primeiros dias ele se continha, respeitava o arranjo; mas, estando a criançada mais taludinha, e a mãe saindo da toca para cuidar um pouco de si mesma, ele dava um jeito de alcançar algum bichinho e trazê-lo para fora. Quando nessas ocasiões ela me buscava pela casa, e com o olhar e gestos aflitos me pedia que a acompanhasse, eu entendia que devia segui-la até o local e passar uma descompostura em meu marido para que ele deixasse em paz os nenéns, após o que ela retomava o seu posto, até o próximo episódio.
Com os meus filhotes ela era extremamente cuidadosa. Uma das lembranças mais delicadas que tenho da Olívia é a dela tentando pegar um pedaço minúsculo de biscoito bem babado que meu filho neném lhe oferecia, sem tocar nos dedinhos, mas sem desistir, pois além de tudo ela era incapaz de recusar qualquer coisa que lhe oferecessem, nem que fosse para ir jogar no quintal, como acontecia quando algum desavisado lhe oferecia uma salsicha, por exemplo.
Infelizmente não tenho uma boa foto dela para mostrar aqui. Mas ela era uma viralata comum, do mesmo tamanho, da mesma cor e muito muito parecida com a princesa Karina, que tem aparecido neste blog. O olhar era um pouco mais doce.
Fiquei com saudades da D. Olívia...
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